terça-feira, 14 de agosto de 2012

Restauro revela obras inéditas de Bispo do Rosário, artista que viveu em manicômio

Ele guardava as agulhas de costura no talco, junto de uma figura de Cristo. Também colecionava revistas eróticas e bordou em estandartes nomes de socialites, assassinas e divas do cinema.

Desde que Arthur Bispo do Rosário, artista que morreu aos 80 anos em 1989, foi anunciado como nome central da 30ª Bienal de São Paulo, em setembro, uma verdadeira exumação do corpo de sua obra está em curso no Rio.

Bispo do Rosário, o paciente 01662 da Colônia Juliano Moreira, fez quase toda a sua produção internado no hospital psiquiátrico que funciona até hoje em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Seu acervo de mais de 800 peças está guardado numa sala da administração do complexo.

Quando Luis Pérez-Oramas, curador da Bienal, decidiu expor 348 das peças nesta edição da mostra, um processo de restauro foi deflagrado para levar a público obras que nunca deixaram o hospício --pelo menos cinco das instalações são inéditas.

"Essas obras nunca saíram daqui porque estavam em péssimo estado", diz Wilson Lázaro, curador do Museu Bispo do Rosário. "Fizemos um restauro, mas conservamos o pensamento dele."

Nesse processo, vieram abaixo algumas das certezas sobre o artista.

Primeiro, a de que era assexuado. Suas anotações obsessivas dos nomes das estagiárias da enfermaria e sua coleção de revistas pornográficas provam o contrário.
Bispo também nunca tomou remédios e tinha total consciência de sua condição de paciente mental, chegando a ironizar a psiquiatria.

"Ele se refere a seu contexto terapêutico", diz Pérez-Oramas. "Tinha uma autoconsciência que relativiza nossas discussões sobre a loucura e suas condições."

Cadernos do artista encontrados no acervo mostram anotações detalhadas de sua rotina no manicômio. Ele narra conversas com enfermeiros, dá detalhes de uma ferida no dedo, cataloga notícias de jornal --em especial sobre crimes-- e mantém um extenso inventário dos materiais que conseguia traficar para o hospital ao criar suas peças.

Uma das obras mais enigmáticas do artista, um estandarte em que ele borda um texto religioso, foi descoberta agora ser a reprodução de um anúncio de revista que vendia uma edição da Bíblia.

"Todos achavam que isso fosse um delírio, mas é uma propaganda", diz Lázaro. "Ele tinha um pensamento para fazer a obra, olhava para a imprensa como fonte de realidade para tudo."

REFINADO E BRUTAL
Essas descobertas recentes reforçam a reabilitação de Bispo do Rosário, que aos poucos perde a aura de louco e ganha o reconhecimento de um artista contemporâneo singular de sua época.

Sob esse novo ângulo, críticos reconhecem agora na obra de Bispo não só a habilidade manual obsessiva dos bordados mas também um pensamento conceitual e plástico que dialoga com trabalhos dos grandes nomes da arte contemporânea do país.

Sua caixa de música, um estojo de madeira cheio de papel picado, em que a canção seria o som do papel soprado no ar, lembra a arte conceitual. Seus papéis de bala são precursores de Beatriz Milhazes. Seus estandartes feitos de fórmica colorida lembram o construtivismo.

"É interessante como uma das grandes obras visuais do fim do século 20, das mais refinadas e brutais, tenha sido feita em isolamento", diz Pérez-Oramas. "Mas toda criação comovente, crítica e relevante exige desmantelar a normalidade do mundo."

Num contexto anormal, Bispo do Rosário construiu uma poética capaz de repensar a beleza e a tragédia da vida real --das vencedoras de concursos de miss aos bandidos e ladrões do noticiário.

"Nossa sociedade precisa da loucura para se excluir dela", diz Pérez-Oramas. "Mas nesse ato de exclusão, acaba exibindo a própria loucura."




Entrevista de pseudônimo de Chico Buarque vira CD

Cansado de ver suas músicas barradas por censores da ditadura militar (1964-1985), o compositor Chico Buarque, 68, decidiu burlar o embargo criando obras sob o pseudônimo Julinho da Adelaide.

A iniciativa, que rendeu músicas como o samba "Acorda Amor", foi tão longe que o personagem concedeu até uma entrevista ao então repórter Mario Prata, para o jornal "Última Hora", de Samuel Wainer (1910-80), em 1974.
Inédito, o registro sonoro da conversa vira agora um CD encartado em um almanaque feito pelo próprio Prata para comemorar os 70 anos do escritório de advocacia Pinheiro Neto.

A obra conta ainda com projeto gráfico do designer gráfico Elifas Andreato, conhecido por ter criado capas de discos de Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Tom Zé e até do próprio Chico.

Com tiragem inicial de 10 mil exemplares, o almanaque será distribuído a partir do próximo dia 21 para clientes, amigos, integrantes e ex-integrantes do escritório. O material não será vendido.

Detalhes do projeto comemorativo foram divulgados pelo jornal "O Estado de S. Paulo" no último sábado.

Publicada em duas partes, em 1974, a entrevista com o personagem surgiu a partir de uma ideia de Prata, e contou com o apoio de Wainer.

Nela, Julinho da Adelaide fala sobre temas diversos como censura, suas qualidades artísticas e o momento em que despertou para a música popular (que teria sido quando foi acertado por um violão atirado por Sérgio Ricardo contra a plateia no 3º Festival da Record, em 1967).



Casa das Rosas organiza seminário de ação poética

A Casa das Rosas, em parceria com o Centro Cultural São Paulo, promove a partir desta terça-feira (14) o 1º Seminário de Ação Poética.

Com o intuito de debater o papel da poesia na sociedade, haverá mesas de discussões sobre como a poesia é tratada por Estado, instituições culturais, imprensa, escolas e universidades.

"Não quisemos organizar seminários sobre estética ou sobre o valor da poesia. Queremos discutir a difusão, a publicação e a divulgação", afirma Frederico Barbosa, 51, diretor da Casa das Rosas.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ator de 'Game of Thrones' vive autor mineiro em filme

Entre decapitações e batalhas sangrentas, uma cena chamou a atenção no primeiro ano de "Game of Thrones": a do garoto Robin Arryn mamando no seio da mãe.

O herdeiro de uma das casas nobres da série é vivido pelo brasileiro Lino Facioli, 12, que, na gravação, sugou uma prótese de borracha. Tinha gosto de tinta, ele depois contou aos pais, o ilustrador Cako Facioli e a designer Claudia Schmidek.

Essa não foi a primeira experiência profissional do garoto, que mora desde os quatro anos na Inglaterra e começou a atuar para dar vazão à sua veia "dramática", como ele mesmo define.

"Uma vez assisti a um programa de natureza e saí fantasiado de flamingo", exemplificou à Folha. "Fiquei um tempão num pé só."

Lino está no Brasil rodando seu primeiro trabalho em português, a adaptação do livro "O Menino no Espelho", de Fernando Sabino. No filme, ele vive Fernando e Odnanref, seu reflexo.

"É meu primeiro filme infantil, todos os outros eram adultos e não pude ver nenhum deles", lamentou. "Só vi uma propaganda."

Ele diz que ainda não sabe se volta a trabalhar no país quando acabarem as filmagens, nas próximas semanas.
"Se achar que vale à pena, vou fazer sem importar o lugar", explicou o menino, que diz que aceitaria atuar em uma novela por aqui.

"Não é a coisa que eu mais tenho vontade de fazer, mas quase nunca recuso trabalho", diz. A mãe pondera, contudo, que isso seria mais complicado por causa do longo período de gravações.

Os planos de Lino, contudo, são mais ambiciosos: ele sonha trabalhar com os diretores Wes Anderson e Steven Spielberg ou contracenar com Harrison Ford.

CARREIRA

Lino tinha 7 anos quando a mãe o matriculou em um curso de teatro após a professora estranhar as fantasias com que ele ia à escola. Partiu dele o pedido para ser incluído no casting da agência de talentos do curso.

Na primeira audição, apesar de não ter ganho o papel, escreveram um novo personagem só para ele. O filme acabou não acontecendo.

O primeiro trabalho de fato foi num curta do brasileiro Daniel Florêncio, amigo dos pais. Na sequência, viveu o filho de Russell Brand em "O Pior Trabalho do Mundo" (2010) e não parou mais.

Lino, que volta no terceiro ano de "Game of Thrones", deve gravar sua participação ainda neste ano na Irlanda do Norte. "Não tenho ideia do que vai acontecer porque minha mãe não deixou eu ler os livros", desconversa.

Fonte: Jornalista Vitor Moreno


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Inscrições para escolha de representantes no Conselho Nacional de Cultura terminam dia 8

O Conselho Nacional de Política Cultural (Cnpc) encerra dia 8 de agosto o prazo de inscrições no processo de escolha dos novos representantes da sociedade civil no órgão. Nesta semana, o Ministério da Cultura divulgou que os interessados podem, além do site www.cultura.gov.br/setoriais, inscrever-se via Correios.

Vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), o conselho é a instância responsável por propor a criação de políticas públicas para a área, acompanhar a execução do Plano Nacional de Cultura, orientar os investimentos do Fundo Nacional de Cultura, entre outras atribuições.

A intenção é eleger representantes da sociedade civil para os seguintes colegiados setoriais: Artes Visuais, Circo, Culturas Indígenas, Culturas Populares, Dança, Literatura, Livro e Leitura, Moda, Música, Teatro, Arquitetura e Urbanismo, Arquivos, Arte Digital, Artesanato, Culturas Afro-Brasileiras, Design, Patrimônio Imaterial e Patrimônio Material. Cada colegiado é composto por 20 membros, sendo cinco representantes do governo e 15 titulares da sociedade civil (além de 15 suplentes).

Considerado complicado por conta das dificuldades de acesso à internet em muitas regiões, o processo eleitoral foi modificado nesta semana pelo Ministério da Cultura, que também reduziu o quórum mínimo para participação de cada unidade da federação no Fórum Nacional Setorial de 15 para 5 eleitores, validamente cadastrados, por setor.

Outra mudança é a possibilidade de enviar por Correios (sedex ou similiar), até 8 de agosto, os documentos exigidos para cadastro de eleitores e candidatos a delegados. A correspondência deve ser encaminhada ao Conselho Nacional de Política Cultural, Esplanada dos Ministérios, Bloco B – Ed. Sede, CEP 70.068-900, Brasília-DF. Os novos conselheiros serão eleitos em novembro, durante os fóruns nacionais setoriais. Ocuparão o cargo pelos próximos dois anos. A atividade não é remunerada.

“As mudanças no processe eleitoral facilitam muito a vida das pessoas que têm interesse em contribuir com a discussão de políticas públicas mas tinham dificuldade em escanear documentos e enviá-los via internet. Para o Norte é fundamental que mais pessoas se inscrevam para ser candidatos a delegados e eleitores. Temos que estar presentes nos fóruns setoriais para poder dizer que tipo de política cultural queremos para o País e para a nossa região”, afirma o escritor Edgar Borges, representante, entre 2010 a 2012, da região Norte no Colegiado Setorial de Literatura, Livro e Leitura.

“Nestes dois anos discutimos diversas políticas culturais, inclusive participando da elaboração das metas do Plano Nacional de Cultura, e tentamos sempre mostrar ao Governo Federal que o Norte precisa de mais atenção às suas especificidades, de mais investimentos na área cultural”, diz Edgar.
DOCUMENTAÇÃO – No site www.cultura.gov.br/setoriais é possível verificar toda a documentação exigida para eleitores e candidatos. A primeira participação dos eleitores será nos fóruns estaduais, durante os quais serão escolhidos os delegados estaduais setoriais que disputarão uma vaga no conselho nacional.

Veja os requisitos exigidos para ser eleitor: ter idade mínima de 18 anos completos na data de 28 de julho de 2012; preenchimento do formulário de cadastramento disponibilizado na página do Ministério da Cultura na internet; e apresentação de cópia digitalizada da Carteira de Identidade, do Cadastro de Pessoa Física (CPF) e de comprovante de residência.

Também deve apresentar os seguintes documentos, comprovando atuação de três anos no setor: currículo; diploma profissional; registro profissional no Ministério do Trabalho (DRT); ou participação em entidade/comunidade representativa da área ou segmento. Além disso, preencherá no site uma declaração de ter conhecimento do Plano Nacional de Cultura (PNC); descrição do vínculo empregatício ou atuação profissional autônoma no formulário de cadastramento; declaração de não ser detentor de cargo comissionado na administração pública federal, estadual, distrital ou municipal e declaração de veracidade das informações.

De quem pretende candidatar-se a delegado são exigidos todos documentos anteriores acrescidos de currículo detalhado com comprovada atuação nos últimos três anos e opcionalmente portfólio; carta de apoio subscrita por: entidade com atuação na área em que concorre ou pelo menos dez eleitores da mesma área, cujo cadastro eleitoral venha a ser devidamente validado; e carta-programa contendo pelo menos três propostas de diretrizes para o desenvolvimento da área em que concorre.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Bienal do Livro de São Paulo traz seleção eclética e reformas na infraestrutura

A CBL (Câmara Brasileira do Livro) anunciou na manhã desta terça-feira (31) a programação da 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
A feira acontece entre os dias 9 e 19 de agosto no Pavilhão de Exposições do Anhembi.

Como nas edições anteriores da Bienal, a programação prima pelo ecletismo. Há desde fenômenos da cultura pop a romancistas e acadêmicos consagrados pela crítica.

Entre os convidados internacionais confirmados estão a americana Cecily von Ziegesar, autora da série "Gossip Girl", o filósofo italiano Mauro Maldonato, o antropólogo francês Bruno Latour e o autor chileno Alejandro Zambra, destaque da última Flip.

Já a lista brasileira traz Cristovão Tezza, Milton Hatoum, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os campeões de venda Thalita Rebouças e André Vianco.
A programação da Bienal também vai prestar homenagens a Jorge Amado e Nelson Rodrigues, que completariam cem anos neste mês, e à Semana de Arte Moderna de 22.

A 22ª edição tem como tema "Livros Transformam o Mundo, Livros Transformam Pessoas". A curadoria é de Antonio Carlos de Moraes Sartini, diretor do Museu da Língua Portuguesa, e dos jornalistas Paulo Markun e Zeca Camargo.
Markun também comanda o Salão de ideias, principal espaço de debate do evento. Já Camargo fica à frente da programação voltada ao público jovem.

REFORMAS

Karine Pansa, presidente da CBL, anunciou que o investimento total na feira é de R$ 32 milhões, contra R$ 30 milhões na última edição, em 2010.

A estimativa é que 1.100 selos editorias participem da Bienal e que o número de visitantes chegue a 800 mil.

A CBL também anunciou mudanças no espaço físico e no serviço de transporte da feira em relação a 2010.

A área da bilheteria e a praça de alimentação serão duplicadas. Já os ônibus que levam gratuitamente o público para o Anhembi partirão, além da estação de metrô Portuguesa-Tietê, também da estação Barra Funda neste ano.
Em 2010, a organização reconheceu como falhos os serviços de alimentação, transporte e acesso ao pavilhão da Bienal.

22ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO
QUANDO: de 9 a 19 de agosto de 2012
ONDE: Pavilhão de Exposições do Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, São Paulo)
QUANTO: R$ 12